plural

PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Silvana Maldaner

18.398


  • Sobre humanidades silenciadas

    Suelen Aires Gonçalves
    Socióloga e professora universitária

    style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">

    Assistimos com muita indignação e dor à exposição e às inúmeras violências sofridas por uma criança, vítima de violência sexual que teve uma gestação, fruto das violações, aos 10 anos. Tal violação foi perpetrada em sequência pelo mínimo quatro anos, sendo elas praticados pelo tio da vítima. Tal tema nos gera inquietações como a interrupção dos debates sobre gênero e violências para nossas crianças e adolescentes para identificar casos de abusos e violação de direitos, como um exemplo de silenciamento. Sem conhecimento e informação casos, infelizmente, esses não são casos isolados em nossos território nacional.

    O abuso sexual é uma das violações de direitos das crianças e mulheres que, infelizmente, conta com o silenciamento e não acolhimento das vítimas. As consequências de violações de direitos são multidimensionais desde o desenvolvimento sexual, da sociabilidade da vítima para com a comunidade/sociedade, da dimensão psicológica, dentre outras. Essa criança foi violada no lugar mais seguro para nossas vidas: nosso lar. Mas infelizmente, é neste lugar que nossas crianças e mulheres são violadas. Somente na última década, o Brasil registrou mais de 177 mil notificações de abuso sexual contra crianças. Cerca de 70% destes abusos ocorrem no ambiente familiar, cometidos por parentes ou pessoas próximas às vítimas. Ou seja, as crianças e adolescentes são abusadas sexualmente por pessoas de extrema confiança das suas famílias e pessoas das relações de amizade e laços familiares.

    O caso exposto nestes últimos dias, tem mais um agravante. Uma criança esteve gestante fruto de um crime de estupro. Porém, o questionamento de setores conservadores é o direito ao aborto (previsto em lei), não ao crime praticado pelo próprio tio . Estamos diante de uma sociedade doente, estamos diante de instituições que reproduzem as desigualdades de gênero e raça. Cito o caso do estadual no Espírito Santo designado para atender a criança que recusou-se a obedecer a ordem judicial de interrupção da gravidez. Neste caso, a criança teve que ser atendida por uma equipe médica do hospital da Universidade Estadual de Pernambuco, o Cisam, em Recife. E não só esse episódio ocorreu neste caso. Em um clima de inversão de valores, para dizer o mínimo, setores da extrema direita fascista brasileira, em frente a hospital chamaram a vítima de "assassina" e expuseram o nome da criança e o endereço do hospital em sociais.

    SOLIDARIEDADE

    Essa cena é a base de uma das minhas reflexões, a dita "família tradicional brasileira" não questiona abusos contra crianças, mas protege os abusadores e expõe a mais perversa inversão de valores e falta de humanidade. Esse caso apresenta muitos gatilhos de reflexões sobre violações de direitos das crianças no Brasil, além de demonstrar que setores conservadores produzem maiores violações no decorrer do caso. Neste caso, infringiram o Artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante o direito à inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Confesso que, neste dia, somente chorei. Chorei mas tive a oportunidade de ver a resistência surgir em meio a tamanha dor. Inúmeras mulheres foram à frente de resistência para garantir os direitos da vítima para a garantia do aborto seguro que foi realizado com sucesso. Mesmo com dor, precisamos seguir firmes na luta contra o abuso sexual de crianças e adolescente, além de afirmar, diariamente, minha total solidariedade a esta criança e a todas as demais vítimas deste crime.

    Resiliência
     

    Silvana Maldaner
    Editora de revista

    style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">A resiliência é a capacidade do indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse ou algum tipo de evento traumático.

    Este ano de 2020 parece ser a prova de fogo para uma nova era. O início de um novo ciclo, um novo patamar de relacionamentos, entendimentos e acima de tudo de ressignificar a nossa existência.

    Ter resiliência é ter fé. É ter entendimento que por mais agressivo e turbulento que seja a tempestade, vai passar, e depois da chuva, vem o sol. Levando e lavando todas as impurezas e coisas desnecessárias.

    Ter resiliência é não responder a ofensas e ataques pessoais, pois a agressividade mostra muito mais sobre a pessoa do que o atacado em si. O ódio e a violência lançada por palavras e ações mostra muito mais a visão de mundo de quem fala, seu conhecimento e amor, ou falta deles, o que carrega dentro de si, o que transborda quando seu copo está cheio, o seu olhar e entendimento da vida. Quando João fala mal de Maria conhecemos muito mais o João do que a Maria.

    Ter resiliência é acreditar que todas as máscaras caem, e que a verdade sempre triunfará. A verdade incomoda, a verdade cria animosidades. Para quem não está preparado, cria artifícios para ataques de desmoralização, descaracterização para que a sua ilusão seja mantida.

    Somente a verdade é realidade. O sofrimento, a ilusão, a mentira, quando expostas a luz, caem por terra. É tipo dor do parto. Parece que vai morrer, uma dor insuportável, os minutos mais alucinantes, mas quando a vida nasce, tudo vira passado, é esquecido e irrelevante. A magia do amor contagia pela alegria do nascimento e das novas esperanças.

    TENTAR DE NOVO

    Quando uma criança começa a andar, ela cai muitas vezes. Ela não se preocupa com o que os outros vão dizer, ou acha que tem algum problema consigo, em tropeçar nas próprias pernas e cair tantas vezes. Simplesmente, ela tenta de novo, e alegremente busca seu próximo passo. Isso porque andar é a natureza real da criança e ela não duvida disto. Não perde a alegria mesmo quando cai, ou quando ouve os outros apontando, revelando os seus medos, suas angustias e suas preocupações.

    Vamos lembrar da nossa criança interior, que mesmo não sabendo do que vai acontecer amanhã, acredita que pode aprender muito ainda. Este é o ano de aprender a resiliência.



Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

CDM voltará a ser abrigo temporário para moradores em situação de rua

Beneficiários do Bolsa Família recebem quinta parcela do auxílio emergencial nesta quinta Próximo

Beneficiários do Bolsa Família recebem quinta parcela do auxílio emergencial nesta quinta

Geral